Farol de Areia

Reunião de imagens e textos de Thomas J Schrage

Jantar à Luz de Meteoro

O velho Ademir estava no quintal, abrindo a primeira latinha, quando chamou Rosa, sua esposa, para ver o cometa que destruiria a Terra.

Rosa gritou lá de dentro da casa que já estava indo, só precisava achar os chinelos.

— Vem descalça mesmo, mulher. Vai se preocupar em sujar a casa justo hoje? — o marido resmungou.

— Não é isso, são as formigas. Tá cheio de formigueiro aí fora, e até hoje você não resolveu.

Ademir encarou o chão, e logo sua vista se ajustou para as várias formiguinhas andando para lá e para cá, alheias à bola fumegante no céu.

Finalmente, Rosa apareceu, vestindo um sapatinho chique que havia usado em, no mínimo, três casamentos naquela semana. Todo mundo queria casar logo.

Ela se sentou na mesinha branca de alumínio fundido, inquieta.

— Minha roupa não está combinando com o sapato — exclamou, ao vento — vou trocar de roupa.

Seu Ademir fingiu que não ouviu, mas sabia que, assim que ela voltasse com outra roupa, ele teria que se trocar para combinar com ela.

E tinha razão. Ela separou um terninho xadrez para ele.

Finalmente, lá estavam os dois idosos na mesinha, com cerveja e petiscos, iluminados por uma luz vermelha vinda do céu, mais bonita do que qualquer vela.

Rosa se levantou, dizendo:

— Não acredito que vamos ficar comendo essas tranqueiras, vestidos tão bem, ainda mais hoje. Vou fazer uma janta. — Como seu Ademir não moveu nenhum músculo, ela precisou lembrá-lo — E você vem ajudar.

Ademir encarou a geladeira. Não havia muita coisa nas prateleiras. Não era seguro ir ao mercado, isso se algum ainda resistia aos saques.

Seu olhar parou nos vários embrulhos de bolo, bem-casados, brigadeiros, lembranças das festas recentes. Sua boca salivou; pelo menos sobremesa haveria de sobra.

No meio de tanto doce, encontrou alguns queijos, bons para um molho. Lembrou-se de que havia macarrão no armário. Teria que servir.

Rosa abriu um vinho.

Ademir colocou os pratos.

Rosa olhou de relance para a TV, onde um homem de colete laranja falava de abrigos, porões, subsolos. Para ela, aquilo já não importava mais.

Desligou a tela. Colocou uma música.

A janta ficou realmente boa, apesar do improviso. Saboreada devagarinho, com gosto de lembranças e risos.

Esse é um texto curto, e com mais humor, não tão comum em outros textos meus. Eu estava um pouco sem temas para escrever, e, trabalhando na Defesa Civil, pensei em fazer algo sobre, misturando com ficção científica. Assim, surgiu tanto este texto, quanto o seu irmão, "Plantação de Feijão".